Uma nova esperança para o saneamento básico brasileiro
Por Por Enéas Ripoli e Hélio Samora (*)
O novo marco legal do saneamento básico aprovado pela Câmara dos Deputados em dezembro do ano passado e que modifica as diretrizes da lei 9.984 de 17 de julho de 2000 traz uma nova esperança para o Brasil uma vez que essa nova legislação tem como objetivo minimizar os problemas e desigualdades regionais existentes.
Não há dúvida de que há necessidade de se fazer modificações importantes no que se refere a esse segmento já que, na prática, não ocorreram melhorias expressivas nos últimos anos no que tange à universalização dos serviços, e aos problemas ambientais, sociais, estruturais e econômicos existentes.
Muito se fala que são necessários altos investimentos, o que de fato é premissa para evoluirmos para a universalização dos serviços, e o novo marco deverá criar um ambiente proativo para os investimentos, principalmente privados. Mas apenas isso não basta. É fundamental que haja uma gestão eficiente para que seja possível maximizar o que já existe e implantar novas tecnologias para otimizar a gestão e monitoramento das operações.
Segundo a mais recente pesquisa do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), realizada em 2018, o Brasil extrai dos mananciais hídricos mais de 16 bilhões de m³ de água por ano, que são transformados em água potável, mas somente a metade desse volume é bem utilizado, ou seja, 50% correspondem a perdas que ocorrem pelos mais diversos motivos, tais como: vazamentos, fraudes, submedição, consumos não autorizados, tecnologias e equipamentos obsoletos, entre outros. Se a água que se perde fosse recuperada em 50%, e a metade fosse de perdas físicas, haveria quantidade suficiente para abastecer até 38 milhões de brasileiros consumindo 150 litros de água por dia. E, concomitantemente, se a água que os consumidores já se utilizam fosse corretamente medida e faturada, em termos de valores seriam acrescidos R$ 12 bilhões ao ano de receita às empresas de saneamento básico, que poderiam ser investidos na qualidade e universalização dos serviços de água e esgoto.
Se os mesmos 50% fossem poupados nos mananciais, haveria recuperação de R$ 2 bilhões ao ano em custos operacionais para a produção de água (somente relativos à energia elétrica e produtos químicos); e ainda o volume de esgoto gerado e a ser tratado seria diminuído em 2 bilhões de m³ ao ano. Poderiam haver outros ganhos recorrentes, como na saúde pública, com a diminuição de doenças relacionadas à água e esgoto; equilíbrio econômico das empresas de saneamento básico; recuperação da receita sobre a água consumida; racionalização de investimentos na produção de água e tratamento de esgoto, o que resultaria na melhoria da qualidade dos serviços prestados, na cobrança justa pela água consumida e na prática de tarifas adequadas.
A boa notícia é que já existem soluções tecnológicas para auxiliar os gestores das empresas de saneamento públicas e privadas a fazer uma gestão eficiente. Uma delas é o SmartAcqua, uma ferramenta munida de conceitos, metodologias e algoritmos focados exclusivamente em criar um ambiente amigável, que utiliza informações de campo obtidas por meio de sensores, algoritmos de Inteligência Artificial e cálculos estatísticos avançados para detectar perdas de água na rede de abastecimento ou nos pontos de consumo (como residências e empresas).
Uma gestão eficiente permite não apenas racionalizar os investimentos na produção de água e tratamento do esgoto, como também contribui para otimizar o consumo de energia elétrica e insumos, possibilitando também o combate ao obsoletismo dos equipamentos e às fraudes. Mas também é fundamental que seja feito, em paralelo, um trabalho permanente de conscientização da população sobre a questão da água. Os habitantes de cada localidade do país devem ter informações da performance e eficiência da empresa de saneamento básico local para que possam cobrar dos gestores as soluções para o uso racional da água potável e o combate eficaz das perdas. Investimentos, sejam eles públicos ou privados, e ações isoladas, pontuais e mínimas, como a prática já demonstrou, não são suficientes.
(*) Enéas Ripoli é graduado em Administração de Empresas (USP) e em Engenharia de Sistemas (FAAP), e sócio-fundador e CTO da SmartAcqua Solutions.
(*) Hélio Samora é graduado em Engenharia Mecânica (Mackenzie), com pós-graduação em Marketing Industrial (ESPM), e sócio-fundador e CEO da SmartAcqua Solutions. – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS